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quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

EM BUSCA DE TERMOS ADEQUADOS




O chamado do Senhor Jesus Cristo para um andar e um falar digno da vocação dos cristãos promove um problema de terminologia para todos nós. Os adeptos da revolução no aconselhamento tem fortes discordâncias a respeito de como o aconselhamento deveria ser feito. E ao contrário do que muitos podem pensar, não se tratam de discussões irrelevantes. Nenhum de nós pode ter uma postura de indiferença para com as concepções diferentes na fé e na prática cristã do povo de Deus.  Isso é tão sério que as pessoas tem investido em carreiras, reputações, instituições e ministérios baseados em pontos de vista diferentes sobre o que é verdadeiro e necessário para a saúde da igreja. Então, como podemos falar sobre esse conflito de forma construtiva? Como podemos, de forma razoável, caracterizar os diferentes lados nessa “guerra sobre o aconselhamento” de maneira que as coisas fiquem mais claras e não turvas? Como vamos falar a verdade em amor, em busca de paz ao invés de exacerbar brigas e perpetuar caricaturas de pensamento?  Qual a melhor terminologia para descrever as partes de forma que as questões em jogo possam ser discutidas sem prejuízo.

1 – Contestadores de Psicologia Versus Psicólogos Heréticos.
Infelizmente, quando os contestadores de Psicologia e os Psicólogos Heréticos se enfrentam o  resultado de tudo isso é muito barulho e pouca reflexão. O sacarmo, comum nessas discussões, impede qualquer reflexão mais profunda. Os filhos de Deus não são edificados por palavras torpes. Quando olhamos para cada lado pelo viés de uma linguagem sarcástica isso é vergonhoso para os dois lados. Palavras imprudentes e facciosas não se coadunam com o chamado de Deus para que tenhamos uma fala construtiva, gentil e graciosa que deve trazer união e pela qual Deus irá nos julgar (Mt 7.1-5; Ef 4.15; 29; 2 Tm 2.24). Não podemos  esquecer que há exceções tanto dentro do grupo de contestadores de Psicologia quanto no grupo de Psicólogos Heréticos. Mas em geral, os dois grupos usam uma linguagem provocativa que serve para nutrir, provocar e justificar as piores tendências da natureza humana, ao invés de expressar o fruto da nossa redenção em  Cristo Jesus. Por isso, deve-se ter o cuidado de se promover o debate ente os melhores representantes de cada um dos pontos de vista, não os piores. As pessoas precisam ser tratadas de forma gentil. E devemos encarar com respeito opiniões diferentes acerca da maneira como as pessoas são ajudadas a mudar. Devemos reconhecer as percepções e preocupações válidas, mesmo que não concordemos com as conclusões. Todos nós temos a tendência à rebeldia e ignorância, e somos cercados de fraquezas (Hb 5.2). Muitos crentes bem intencionados dos dois lados do debate são mais desajeitados do que perversos. Os nossos pecados fazem de nós pensadores desajeitados, praticantes desajeitados, teólogos desajeitados, exegetas desajeitados e analistas culturais desajeitados. Todos nós somos teimosos, míopes, particularmente aqueles presos em erros que contém verdades parciais. Sim, todos nós temos uma lógica perversa, mas é possível que mantenhamos os erros e meias verdades sem estarmos totalmente pervertidos. Mas há um fato inquestionável ocorrido ao longo do século XX e que continua no século XXI, a igreja tem sido lamentavelmente fraca na proposta de cura das almas. E Cristo quer que amadureçamos nesta sabedoria de ajuda às pessoas com seus problemas. Amadurecimento é uma tarefa dura e lenta, principalmente quando as questões em jogo são de grande importância. Mas sem dúvida os semeadores de discórdia e falsidade estão sempre ativos na igreja e impedem a igreja de crescer em direção  à verdadeira sabedoria tanto em relação à cura das almas quanto na redenção do homem.  Mas, em compensação, o semeador do amor e da verdade está sempre disposto a trabalhar em meio ao tumulto e discussões apaixonadas ao longo dos tempos. A sabedoria bíblica não é algo que brota de repente, como que da cabeça de Zeus. Ela nasce pequena, e cresce em meio a muitas provações e erros, sustentada pela graça de Deus e segue em direção à plenitude de Cristo. Os chamados Contestadores de Psicologia – aqueles que acreditam na Suficiência das Escrituras para a geração de um modelo de aconselhamento abrangente  - não acreditam nas Psicologias Modernas, considerando-as erradas . Eles acreditam que a Bíblia se opõe firmemente ao sincretismo (Bíblia e Psicologia). Mas eles acreditam que algo pode ser aprendido com as Psicologias, ser errado não significa falso; o erra pega emprestado elementos da verdade para ser plausível; Deus permite o erro de observação e persuasão para expor lacunas, imperfeições e distorções no pensamento e prática de seus próprios filhos.  O fato de a Bíblia ser suficiente para transformar vidas não significa que ela é exaustiva. Mas para isso é necessária uma interpretação e aplicação das Escrituras proveniente do envolvimento em uma tarefa teológica e interpretativa. Boa, verdadeira e fiel teologia é fundamentada no texto bíblico, mas muitas vezes diz coisas diferentes do que o texto diz, pois é fundamentada em diferentes perguntas. O ministério face-a-face deve usar a Bíblia desta maneira e não apenas inserir textos-provas na conversa. Todo ministério exige sensibilidade e flexibilidade para as diferentes condições daqueles a quem se ministra. Embora se possa achar exceções, a maioria dos contestadores de Psicologia não é contra o aconselhamento. Por isso, é importante que se desenvolva uma prática de aconselhamento amorosa e eficaz na cura das almas como alternativa à Psicologia Secular. O debate não é  sobre se oferecer ou não o aconselhamento, mas que tipo de aconselhamento se deve fazer, e que tipo de cura se deve oferecer. Já os chamados psicólogos heréticos - aqueles que acreditam que a Bíblia não é suficiente para gerar um modelo de aconselhamento abrangente - dão para as psicologias seculares um papel essencial. Para eles, as teorias da psicologia oferecem algum tipo de verdade necessária, e os profissionais da psicologia oferecem algum tipo de prática necessária e válida. Mas os chamados psicólogos heréticos ainda acreditam que a Bíblia tem a autoridade final.  Ao afirmarem que as Escrituras não são suficientes, não significa que acham que as Escrituras são irrelevantes, ou que elas devem estar subordinadas às psicologias seculares, mas entendem que a própria Bíblia manda que procuremos a verdade fora da Bíblia. Para eles, a própria Bíblia é contra o biblicismo. Muitos desses psicólogos trabalham contra o secularismo das psicologias modernas e no sentido de desconsiderar o que parece falhar no teste das Escrituras. Porque eles se tornaram psicólogos? Defeitos gritantes no entendimento atual de como a igreja deve aconselhar  e na prática do aconselhamento são a principal razão porque gastam tempo e esforço em estudar o comportamento humano. E na cultura em que vivemos, estudar o comportamento humano significa estudar psicologia. Que outra disciplina oferece condições de se olhar de forma constante para as complicações e misérias da alma? Onde os mais defeituosos relacionamentos estão sob escrutínio? Onde mais se pode oferecer ajuda a uma pessoa para vencer as dificuldades da vida? Formação teológica e pastoral, infelizmente, não tem oferecido ferramentas necessárias para se chegar a essas questões.

Adaptação do original Cure of Souls (and the modern Psçychoterapies) de David Powlison.
Texto completo disponível em http://www.ccef.org/cure-souls-and-modern-psychotherapies
Pr. Carlos

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