Páginas

SERMÕES

Sermão Pregado no dia 21 de fevereiro na Igreja Presbiteriana Central de Águas Claras

SALMO 123

QUEM É O DEUS A QUEM SERVIMOS?


A mitologia grega nos conta a seguinte estória:

Os deuses criavam do barro os seres vivos. Mas sem perceber privilegiaram os animais, em detrimento dos homens. Os animais receberam as qualidades necessárias que lhes permitiram se adaptarem perfeitamente ao meio, mas a espécie humana foi esquecida, sem pelos os homens não podiam suportar o frio e não tinham forças suficientes para combater os animais que eram mais fortes.Até que Prometeu, filho do titã Jápeto, sentiu pena da raça humana. Ele sabia que a inteligência do homem daria condições para que fabricassem armas e construíssem abrigos, mas lhes faltava um elemento essencial: o fogo. Os deuses tinham o fogo, que era guardado a sete chaves. Prometeu entrou na casa de Hefesto, o deus do fogo, para roubar a chama e a levou aos homens. Zeus, então resolveu se vingar. Criou uma criatura irresistível que causaria desgraça aos homens. Criou a primeira mulher, chamada Pandora. Hefesto a enfeitou de jóias e Atena a vestiu belamente.
Pandora recebeu uma caixa, que foi alertada pelos deuses que nunca abrisse. Mas os deuses sabiam que ela não resistiria à curiosidade e um dia abriria a caixa. Pandora abriu a caixa de onde saíram uma série de desgraças. Quando Pandora percebeu o que estava acontecendo fechou a caixa, e trancou a esperança. Desta forma, a humanidade foi enchida de toda sorte de desgraças e ficou sem esperança. Mas a vingança de Zeus não parou por aí. Zeus acorrentou Prometeu a um rochedo com correntes de ferro que prendiam seus braços e pernas. Assim, Prometeu sofria todos os dias pois sofria o ataque de uma águia que vinha lhe devorar o fígado que crescia novamente.

Estes eram os deuses adorados na antiguidade Grega. Mas o Deus das Escrituras, quem é? Quais as características Dele? Como Ele age? Como Ele se relaciona com a humanidade?


O Salmo 123 nos responde estas perguntas e nos apresenta quem é e como é o verdadeiro Deus, o Deus que nos guia nesta jornada chamada vida.

1 – Deus é o Senhor.

Vs. 1,2

O servo aqui olha para o seu Senhor e o senhor é comparado com Deus, mas há uma coisa interessante. O servo está olhando para a mão do senhor, o que isso significa? Que o servo está de joelhos.Esta é a posição que devemos estar diante de Deus, postura comportamental, postura espiritual.

Hoje em dia, é fácil ter uma idéia errada desta relação entre nós e Deus. A história da redenção Deus se apresenta a nós, em Cristo Jesus, como servo e por isso temos uma tendência a assumirmos o papel de mestres e, então, começarmos a dar ordens a Ele. Mas Deus não se tornou servo para que o tratemos como um especialista que resolve um problema para nós. Não é um patrão que temos que bajular para conseguir favores.Deus se tornou servo para que nos uníssemos a Ele numa vida redentora.

Acostumamos-nos a ter uma relação com a igreja de Deus como uma entidade a qual nos filiamos para termos ajuda quando necessitamos e por meio dela fazermos nossos pedidos. Mas se Deus realmente é Deus, ele sabe mais sobre as nossas necessidades do que nós mesmos, ele conhece nossas emoções e sentimentos mais do que nós mesmos.

Conforme a mitologia grega, Proteus era uma deidade que poderia transformar-se em dragão, fogo ou torrente de água, segundo o seu querer. Mas ele era dotado de um singular dom de profetizar o futuro. Só uma coisa poderia forçar Proteus a satisfazer as exigências de alguém, ele teria de estar preso a correntes.

Hoje queremos fazer o mesmo com Deus, acorrenta-lo para que Ele cumpra o nosso querer. Hoje temos um estilo proteano de nos relacionar com Deus. O estilo proteano de viver domina as nossas vidas e cultos. Porque em geral nós não somos tão críticos de nós mesmos quanto da cultura. Nós vivemos pregando sobre os valores familiares, ficamos abismados com a leis contra o casamento, com os big brothers da vida que incitam o homossexualismo e a promiscuidade, mas, em geral, os filhos criados em igrejas e lares cristãos são acentuadamente, ignorantes da Palavra de Deus e separados da fé de seus pais. Porque será que as pessoas hoje que já compraram quase de tudo que mostra na televisão são menos felizes que seus avós que viveram na época da grande depressão? Porque será que a geração anterior à minha lida muito melhor com o sofrimento do que a minha geração?
Porque, hoje em dia, a sociedade é muito menos influenciada pelo cristianismo do que antes, porque os cristãos estão tendo uma relação diferenciada com Deus. O salmo não nos apresenta um Deus funcional que nos ajuda a resolver os nossos problemas, ou um Deus de entretenimento que nos traz alívio nas horas de tédio. Ele nos apresenta um Deus que é Senhor. A Bíblia nos apresenta o Deus do Êxodo e da Páscoa, o Deus do Sinai e do Calvário. Se quisermos entender Deus devemos fazer sob as condições Dele. Precisamos olhar para a Bíblia e para Jesus Cristo. A Bíblia nos apresenta um Deus que é Senhor, para quem devemos olhar de baixo para cima, para quem temos que elevar os olhos, quando olhamos para Deus de baixo para cima estamos na postura de servir.

2 – Deus é misericordioso.

Vs. 3

Um segundo elemento do serviço tem a ver com a nossa expectativa. O que acontece quando nos prostramos perante Deus e elevamos os olhos para Ele?

Há um grande mistério em Deus que nunca poderemos decifrar, não tem como definir Deus, não temos como empacotar Deus. Mas isso não significa que não sabemos nada sobre Deus. Nós sabemos o que esperar de Deus quando somos servos fiéis, a Bíblia nos diz.Devemos esperar misericórdia.

As Escrituras nos afirmam veementemente que tudo o que Deus planeja para nós é o melhor. Ele não nos trata conforme merecemos, e sim de acordo com o Seu plano. Deus não é um segurança que fica vigiando o universo, pronto para descer o cassetete quando saímos da linha, ou que quer nos colocar na cadeia quando cometemos uma infração. Deus é um oleiro que trabalha as nossas vidas, formando e reformando, até que finalmente este vaso esteja pronto para o reino.

O salmista diz misericórdia não porque quer que Deus deixe de fazer o que deve, mas sim como uma constatação daquilo que Deus já faz. Vivemos debaixo da misericórdia, Deus não nos trata como estranhos, Ele nos governa, nos guia, ordena.A palavra misericórdia significa que o olhar para cima a Deus nos céus não espera que Deus fique nos céus, mas que desça, entre na nossa condição.

Há uma música de João Alexandre chamada Tapeceiro que nos mostra bem como é esse processo de misericórdia de Deus. Eis a letra dela:

Tapeceiro, grande artista,

Vai fazendo seu trabalho

Incansável, paciente no seu tear

Tapeceiro, não se engana

Sabe o fim desde o começo,

Traça voltas, mil desvios sem perder o fio

Minha vida é obra de tapeçaria,

É tecida de cores alegres e vivas,

Que fazem contraste no meio das cores

Nubladas e tristes

Se você olha do avesso,

Nem imagina o desfecho

No fim das contas, tudo se explica,

Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem

Quando se vê pelo lado certo,

Muda-se logo a expressão do rosto,

Obra de arte para Honra e Glória do Tapeceiro

Minha vida é obra de tapeçaria,

É tecida de cores alegres e vivas,

Que fazem contraste no meio das cores

Nubladas e tristes

Se você olha do avesso,

Nem imagina o desfecho

No fim das contas, tudo se explica,

Tudo se encaixa, tudo coopera pro meu bem

Quando se vê pelo lado certo,

Todas as cores da minha vida

Dignificam a Jesus Cristo, o Tapeceiro

3 – Deus é libertador.

Vs. 4

A situação de escravidão é recorrente na história da humanidade. E a experiência nunca foi muito feliz. Quando este salmo foi escrito, o salmista vivia em uma escravidão institucionalizada. Este versículo é um grito do salmista, um desabafo. Ele está cansado do escárnio e do desprezo dos senhores terrenos.

Nós vivemos numa escravidão semelhante. É verdade que em nosso país a escravidão foi abolida, mas a experiência de servidão ainda está entre nós e é tão opressiva como sempre. Por todo lado vemos pessoas reclamando que não têm dinheiro suficiente, não têm tempo suficiente, pessoas que dizem que não podem ser elas mesmas e que estão sob o controle dos outros o tempo todo.

Aléxis de Tocqueville (foi um pensador político, historiador e escritor francês.do século XIX), diz: “O individualismo, a princípio, somente enfraquece as virtudes da vida pública; mas, com o passar do tempo, ataca e destrói todos os outros, e é finalmente absorvido em um egoísmo evidente. O egoísmo é um vício tão antigo quanto o mundo... o individualismo é de origem democrática.”

Nós temos uma tendência em sermos controlados pelas pessoas mais do que por Deus. O temor dos homens é algo que fazemos naturalmente, é algo que nos escraviza aos homens. Desde a queda, é um instinto humano. Quando é que as pessoas nos controlam?

- Quando nos preocupamos com que pensam de nós.

- Quando ficamos preocupados com a exposição.

- Quando buscamos agradar as pessoas porque temos medo da rejeição, da ridicularização e do desprezo.

Quando agimos assim nos deixarmos ser escravo das pessoas.

Quando é que o trem está mais livre? Quando ele vai aos solavancos fora do trilho, ou quando corre suavemente nos trilhos. Ele está mais livre quando está fazendo aquilo pro qual foi construído.

Um músico? Quando ele está mais livre, quando se esquece da regras da harmonia, do ritmo, das escalas, ou quando ele passa horas estudando tudo isso para tocar dentro de uma certa estrutura e dentro de um conjunto de regras que o orientam como tocar. Uma pessoa que pega um instrumento mas que nunca estudou vai fazer só barulho, mas alguém que estudou, que conhece as notas musicais, que entende de afinação faz música. O primeiro está refém da sua falta de conhecimento, de técnica. Mas aquele que segue dentro das horas difíceis de estudo e restrição torna-se livre para criar as suas próprias músicas. Quando estamos livres? Quando vivemos tal como Deus quer.

Foi-se o tempo em que as pessoas pensavam que liberdade para um passarinho era voar, liberdade para um peixe era nadar, e liberdade para os seres humanos era, realmente, experimentar aquilo que alguém havia sido criado para ser. Hoje liberdade significa absoluta liberdade de escolha – a liberdade de escolher entre duzentos canais, mesmo que a pessoa jamais assista a mais de quarenta.

A primeira pergunta do breve catecismo: “Qual o fim principal do homem?"  é irrelevante para a busca da identidade e da liberdade.”.

Mas há pessoas cujos mestres são o dinheiro, o trabalho, o sexo, as drogas, etc.

Qual é a diferença do cristão?

O cristão não é alguém que não tem senhor. Ele é alguém que reconhece que o verdadeiro problema não está em alcançar a liberdade, mas em aprender a servir sob um mestre melhor. O cristão reconhece que todo relacionamento que exclui Deus torna-se opressivo. O Cristão é alguém que deseja ardentemente agradar o seu mestre.

CONCLUSÃO

O povo de Deus é incentivado em toda parte a trabalhar pela libertação de outros, ajudando-os a ficarem livres de qualquer forma de escravidão – religiosa, econômica, cultural, política. Mas libertação significa mudança de senhorio, é isso que o Salmo 123 nos apresenta uma transição da opressão dos senhores deste mundo para a liberdade de uma nova servidão, ele nos coloca no caminho do aprendizado de como usar nossa liberdade mais apropriadamente, debaixo do senhorio de um Deus misericordioso.

Quem é o Deus apresentado pelo salmista?

1 - Senhor;

2 – Senhor misericordioso;

3 – Senhor libertador.

Pr. Carlos

________________________________________________________________________________

SALMO 124 - AJUDA

Sermão pregado na Igreja Presbiteriana Central de Águas Claras no dia 28 de março de 2010.


                     
O século 21 tem sido marcado por grandes tragédias. Algumas naturais, outras não. Tivemos os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que causaram a morte de quase três mil pessoas, com desdobramentos que seguem gerando ódio e morte. No dia 26 de dezembro de 2004, um grande maremoto devastou a costa de vários países no Oceano Pacífico, causando a morte de quase 300 mil pessoas e deixando milhões desabrigados. No dia 29 de agosto de 2005, o furacão Katrina atingiu três estados do sul dos Estados Unidos, no que foi considerada a maior tragédia da história do país, levando a vida de mil pessoas e deixando milhares sem abrigo.
                    Aqui no Brasil temos assistido a tragédia de milhares de pessoas que perderam parentes e casas nas enchentes de 2009 e deste ano.
                   Tivemos recentemente os terremotos do Chile e do Haiti, pais já devastado pela miséria. No Haiti o terremoto matou cerca de 200 mil pessoas e deixou milhões desabrigados.
                   A cada uma dessas catástrofes as mesmas perguntas vêm e discussões para as quais não existem respostas racionais vêm à tona.
                   E, então, surgem as mais diferentes teorias tentando explicar o que aconteceu. Em uma conversa informal que não sabia estar sendo gravada, o cônsul geral do Haiti em São Paulo atribuiu o ocorrido à religião praticada por cerca de metade dos haitianos, o vodu. No seu entender, isso trouxe uma maldição sobre aquele povo.
                 Mas há também os cristãos que oferecem respostas simplistas a estes fatos como se fossem verdades inquestionáveis das Escrituras. As Escrituras nos afirmam que a humanidade sofre as conseqüências dos seus pecados. Mas é muito complicado procurar identificar de modo preciso a relação entre Deus e eventos específicos como o terremoto do Haiti. Dois erros podem ocorrer:

1 – Afirmar que Deus causou a tragédia para manifestar o juízo sobre aquele povo. Se for assim, porque não acontece o mesmo no Brasil, que é o maior país espírita do mundo. Além disso, entre as vítimas fatais certamente havia cristãos fiéis, pessoas tementes a Deus.

2 – Outro erro é afirmar que Deus nada teve a ver com o que aconteceu, que foi pego de surpresa, que tudo foi fruto das circunstâncias. Quem pensa assim faz de Deus um mero espectador do que acontece, um coadjuvante na existência humana. Estes fazem de Deus um criador sem criação.

              Essas são respostas frágeis que não respondem às grandes questões e nem expressam a graça de Deus. Como olhar para tudo isso e continuar acreditando em um Deus que ama? Um Deus cheio de compaixão e misericórdia.
             É preciso fé e reverência para encarar estes fatos. Não podemos excluir Deus deles, pois onde há sofrimento Deus está presente, mesmo que silenciosamente. Qualquer esforço para entender esses fatos sempre será limitado.
            A resposta de Deus ao sofrimento humano não foi tentar explica-lo, mas enviar seu Filho eterno, que se fez homem entre nós, mergulhou no abismo da dor do sofrimento, para nos mostrar, por meio da cruz e da ressurreição, o caminho da vida e da esperança eterna.
            Tragédias como essas revelam o que há de pior e melhor no ser humano. Podem manifestar solidariedade ou indiferença. Esperança e fé ou ceticismo e desesperança. Bondade de generosidade ou egoísmo e ambição.
             Esta é a proposta do Salmo 124, nos apresentar um Deus que é ajudador, não um Deus que não permite que nada aconteça aos seus, mas um Deus que está junto com a humanidade no meio do sofrimento.
             O Salmo 124 é um salmo de perigo e de ajuda. Este Salmo descreve o trabalho perigoso do cristão e declara o auxílio que ele sempre experimenta vindo da mão de Deus.
             Nos dois primeiros versículos Deus é descrito como sendo POR NÓS. E o último versículo diz “O forte nome de Deus é nosso auxílio, o mesmo Deus que fez o céu e a terra”. Concluindo: Deus é por nós, Deus é nosso auxílio.
              Mas como conciliar esta afirmação com os problemas que temos no dia a dia? Como afirmar que Deus é por nós quando um ente querido morre, quando descobrimos que temos uma doença incurável, quando falta dinheiro para pagar as contas no final do mês? Como explicar isso? Como ter certeza de que Deus é por nós?
               O Salmo 124 não tem a intenção de pedir desculpas pelos fatos ruins que acontecem em nossas vidas, mas sim testemunhar a respeito de Deus. Ele não discute a ajuda de Deus, não explica o auxílio de Deus, é um testemunho do auxílio de Deus na forma de cântico. E a maneira como o Salmo apresenta isso é tão vigorosa que estas perguntas deixam de ser prioritárias e outras perguntas assumem o lugar:"Por que existem pessoas que conseguem cantar com tanta confiança que “o nome forte de Deus é nosso auxílio.”.
              O Salmo nos apresentam dados sólidos, vitais que têm tanto conteúdo e substância do que todas as coisas que ouvimos o dia inteiro.
               O Salmo é escrito por Davi, um homem de guerra, um homem que estava acostumado a lutar pela sobrevivência, acostumado a lutar contra os infortúnios da vida, que havia perdido um filho, e que tinha guerra entre os próprios filhos, um homem que havia mandado assassinar outro para ficar com sua mulher e que sentia o peso desta culpa. Portanto, é mais provável que aqui Davi apresente uma história conhecida e exorta os fiéis a refletirem sobre o socorro divino que á haviam experimentado. A conclusão é: o livramento e a salvação procedem do socorro da parte de Deus.

Vs. 1-5 - 1 – Os perigos que enfrentamos.

O testemunho destes versículos é vivo e contagioso. Fica claro que a ajuda de Deus não é uma experiência individual, mas comunitária, cooperativa, ela é derramada não apenas sobre indivíduos, mas sobre o povo de Deus. O Salmista usa duas ilustrações:

1 – A ira de dragões.
O primeiro quadro é de um enorme dragão ou um mostro marinho. Ninguém jamais viu um dragão, mas todo mundo sabe “que eles existem”. Os dragões são projeções de nossos temores, interpretações horríveis de tudo o que pode nos machucar. Um dragão é mau. Como é a figura de um dragão? Pele grossa, boca que cospe fogo, uma cauda sinuosa que se move violentamente em chibata, o apetite insaciável, ou seja, sinaliza uma destruição imediata.

2 – Uma Enchente destruidora.
O Salmista fala de desastre repentino. Ultimamente, temos visto na TV muitas enchentes, enchentes destruidoras, temos visto o poder de destruição da águas dos Tsunammis. E é isso que salmista fala, do poder de destruição da água.  Em um minuto você está bem, está feliz, e fazendo planos para o futuro e de repente, vem a destruição repentina, tudo vira uma catástrofe.

            O Salmista é uma pessoa que já passou pelo pior – a boca do dragão e a torrente da enchente – e se acha intacto. Ele não foi abandonado e sim ajudado. A força final não está no dragão ou na enchente, mas em Deus que não foi embora e nem nos abandonou.
             Ser cristão é uma tarefa perigosa, todos os dias a nossa fé é posta à prova. Nunca vimos Deus. Mas estamos em um mundo onde quase tudo pode ser pesado, explicado, quantificado, observado, nós perseveramos em fazer a nossa vida girar em torno de Deus que não vemos a quem olho nenhum ouviu, nem ouvido ouviu, cuja mente jamais foi perscrutada. Todos os dias a nossa esperança é provada. Não sabemos nada sobre o futuro Ao final deste culto podemos ter que tratar com morte. Pode ser uma doença, um acidente, uma catástrofe pessoal ou mundial. Mas apesar de todo o nosso otimismo, ou pessimismo, sabemos que Deus realizará sua vontade e alegremente insisto em viver na esperança de que nada me separará do amor de Cristo. Todos os dias nosso amor é provado. Não há nada em que eu seja pior do que no amor. Sou bem melhor em competir do que em amar. Sou bem melhor em responder aos meus instintos e ambições de progredir e fazer diferença do que sou em descobrir como amar meu próximo. Mas todos os dias tenho que me entregar às frustrações e fracassos de amar, ousando crer que fracassar no amor é melhor do que ter êxito no orgulho. Tudo isso é um trabalho perigoso, tudo isso significa ser cristão, pois vivemos à beira da derrota o tempo inteiro. Vivemos no papo de dragão e à beira da enchente. Vivemos na luta constante contra três grandes inimigos: a carne, o diabo e o mundo. Destes três o mundo é o mais sutil e perigoso, devido às constantes mudanças de mentalidade e de comportamento que vão ocorrendo de uma década para a outra. Por exemplo, na modernidade, o processo de emancipação do ocidente em relação a Deus e sua Palavra se deu, principalmente, através da fé nos seguintes ídolos:

• Fé no progresso;
• Fé na ciência, na Tecnologia e na Economia;
• Fé na razão;
• Fé na liberdade.
• O homem moderno cria firmemente que o conhecimento científico, tecnológico e econômico instauraria um progresso tão grande que erradicaria todo o mal do mundo (guerras, fome, doenças, etc.).

                Para que o progresso científico, tecnológico e econômico fosse alcançado, o homem teria que se libertar de toda forma de obstáculo que impedia o pleno uso de sua faculdade racional. Isso incluía Deus e sua Palavra: “O homem voltou a ser a medida de todas as coisas e a razão passou a ser a medida do homem”. Acontece que alguns acontecimentos geraram frustração e decepção para com os deuses do homem moderno: 2 Guerras mundiais, fome na áfrica, epidemias.

                 O homem pós-moderno está desiludido. Na pós-modernidade a fé idólatra na liberdade e na autonomia foi intensificada, só que agora ela serve aos interesses hedonistas e imediatistas do homem; na pós-modernidade o “prazer imediato” tem muito mais peso na tomada de decisões de alguém do que qualquer outro princípio (racional, moral, religioso, etc.); a adoração que o homem pós-moderno tem devotado à satisfação imediata dos seus desejos e prazeres tem gerado uma forte tendência ao consumismo e ao sensualismo.
                Todos se acham absolutamente livres para não se submeterem a princípios gerais, pois não querem suprimir seus interesses e os interesses de seu grupo. Este é o nosso grande inimigo que procura nos devorar e submergir todos os dias.

                Mas o foco do Salmo não está nos perigos e sim na ajuda.


Vs. 6-8 -  A ajuda quem vem do alto.

              Deus não foi embora e nos deixou. Ele não nos abandonou indefesos, desamparados, Ele é o nosso auxílio.
              Os cristãos não são moralistas enjoados que precisam da aprovação de um mundo que vai para o inferno, os cristãos são pessoas que louvam o Deus que está do nosso lado. Não são simuladores de uma vida piedosa no meio de uma sociedade decadente, mas são testemunhas fortes do Deus que é o nosso auxílio. .
             O Salmo 124 é o caso de uma pessoa que se aprofunda no problema e encontra ali a presença do Deus que é por nós. Nos detalhes do conflito, nas minúcias do histórico pessoal, a grandeza majestosa de Deus é revelada. A fé se desenvolve a partir dos aspectos mais difíceis da nossa existência, não dos mais fáceis.
             Pessoas de fé não são aquelas que nasceram, por sorte, com uma disposição alegre de encarar a vida. Essa idéia que tem sido propagada de que os cristãos são protegidos das dificuldades da vida é o contrário da verdade, os cristãos são aqueles que conhecem profundamente as lutas e dificuldades da vida e a feiúra do pecado do que os outros.
              Este Salmo não olha para a beleza do céu, do sol, das estrelas ou da lua, mas sim para as dificuldades da história, a ansiedade do conflito pessoal e trauma emocional. E vê ali o Deus que está do nosso lado, que nos ajuda. O Salmista usa uma linguagem hiperbólica, ao falar das grandes dificuldades e quando as compara com a grandeza do Deus criador, elas se tornam pequenas.
              Somos chamados a viver no contrapé do mundo, a falar palavras de louvor num mundo que é infernal; cantarmos nossos cânticos de vitória num mundo onde as coisas são feias e sujas, vivemos a nossa alegria entre pessoas que não nos entendem nem nos incentivam.
              Mas o conteúdo de nossas vidas é Deus e não a humanidade. Não estamos na rua revirando latas de lixo em um beco escuro, mas estamos caminhando na luz, em direção a um Deus que é rico em misericórdia e forte para salvar. É Cristo, não a cultura, que define a nossa vida.
              Em Novembro de 1873, o navio Ville de Havre, de bandeira francesa, que zarpou de Nova Iorque com destino à Europa, se chocou com um veleiro inglês e naufragou em menos de uma hora. Entre os mortos estavam diversos cristãos que haviam participado de um concílio na Filadélfia e os quatro filhos de Horatio G. Spafford, um advogado crente de Chicago, muito amigo do evangelista Moody. Em meio à dor pela perda dos filhos, Spafford escreveu a letra do conhecido hino Sou Feliz Com Jesus. (Hino 108 do hinário presbiteriano). Porque os cristãos antigamente quando sofriam faziam hinos de adoração ao Senhor e os cristãos de hoje se deixam consumir pela ira, pela depressão, pela autocomiseração?
            Porque o conceito que os cristãos de hoje têm não é mais o conceito bíblico de Deus, de um Deus ajudador, que está conosco no sofrimento e que nos reserva uma paz eterna e uma glória eterna ao final de tudo isso.
             Preste atenção: a ênfase da sua vida deve estar na ajuda que vem dos céus, não os perigos que enfrentamos todos os dias.
              É possível sim ter certeza de que Deus é por nós, porque a Bíblia fala que Deus está do nosso lado, porque a Bíblia fala, e que Deus um dia nos livrará de todo o mal gerado pelo pecado ao qual somos submetidos nesta vida.

Pr. Carlos