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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O que não dizer às pessoas que estão sofrendo.


“Poderia ter sido pior. Imagine se você tivesse quebrado as suas pernas.” Expressões como essas são, sem dúvida, maneiras estranhas de consolar aqueles que sofrem. A maioria dos nossos conselhos a pessoas que estão sofrendo são oferecidos com boas intenções, no entanto, esses conselhos são julgados por aqueles que os ouvem, que, na maioria das vezes, os veem como equivocados, ou até mesmo mal intencionados. Por isso, precisamos procurar melhorar nosso repertório de conselhos a pessoas que sofrem. Mas há algumas expressões que, sem dúvida, são equivocadas quando estamos aconselhando pessoas que sofrem. A mais usada delas e consequentemente, mais equivocada, é a seguinte: “Pense no que Deus está te ensinando com isto!” Aparentemente, isso soa ortodoxo. Deus, sem dúvida, nos ensina no meio do sofrimento, e tudo o que Ele está fazendo é para o nosso bem. Concordo com C.S.Lewis quando ele diz que a dor é o megafone de Deus para despertar um mundo surdo. Mas será que esse tipo de expressão demonstra uma ortodoxia relevante, pastoral e edificante? Considere alguns problemas que essa expressão traz:

• Apesar de ter a intenção de demonstrar compaixão, se você ouve essa expressão de alguém você provavelmente não sentirá compaixão.

• Essa frase sugere que o sofrimento é um enigma decifrável, quando na verdade ele não é, que nós temos que buscar adivinhar o que há na mente de Deus. É como se estivéssemos em um jogo cósmico, onde o melhor é acertar a resposta logo, caso contrário o sofrimento continuará.

• Ela sugere que a pessoa fez alguma coisa que desencadeou o sofrimento, consequente, ela enfraquece o chamado de Deus a todos os que sofrem que diz: “confie em mim.”

Abaixo relacionamos quatro pressupostos que devem ser levados em conta ao aconselhar uma pessoa que sofre:
O sofrimento nos compele à modéstia. As Escrituras nos dão um uma série de insights a respeito do sofrimento humano, mas esses insights não são exaustivos. O mistério do sofrimento nos lembra que nós ainda somos como crianças que não entendem como seus bons pais podem promover dificuldades em suas vidas. Devemos entender que no meio do sofrimento humildade é necessária. Quando falamos a pessoas que estão sofrendo, devemos entender que a humildade perante o Senhor é expressa quando somos humildes perante as pessoas que sofrem.

Não tente interpretar o sofrimento. Tenho aconselhado uma pessoa que agora está passando por um terrível sofrimento, e “O que Deus está falando para ela”? é a pergunta que todo mundo faz. Durante anos ela tem questionado o porquê de não ter nenhuma resposta para seu sofrimento. Tudo o que ela pode imaginar é que ela é muito pecadora para entender isso ou que Deus não quer dar a resposta - por isso ela alterna entre se sentir culpada ou frustrada. Jó no Antigo Testamento e o cego de nascença no Novo Testamento (João 9) devem nos ensinar a respeito de ficar tentando especular a respeito dos intentos de Deus. Nenhum dos dois imaginava que Deus os estava ensinando.

É um grande erro supor que a pessoa que sofre está em pecado. A pergunta que devemos fazer em momentos como esses é: Como você está aprendendo a respeito de Deus neste momento de sua vida? Mas ao menos que haja, de forma clara, uma conexão entre o pecado da pessoa e seu sofrimento, e que isso seja óbvio para todo crente existente no planeta, nós não podemos supor ou fazer uma relação entre o sofrimento da pessoa e seu pecado. A maioria de nós vê melhor o nosso próprio pecado durante o sofrimento, digo isso porque isso acontece comigo, mas isso não significa que o nosso pecado é a causa do nosso sofrimento.

A busca por compreensão pode trabalhar contra a fé. Eu não creio que devemos se estóicos para com o nosso sofrimento. Mas quando o nosso objetivo primário é descobrir uma mensagem pessoal nas deficiências específicas de nossas vidas, nós estamos na verdade confiando em nosso entendimento humano, que é fraco e limitado, ao invés de confiar no Criador. A fé é o nosso grito no meio do sofrimento – fé em Jesus Cristo. No sofrimento devemos nos lembrar que Deus é, de fato, bom e compassivo. A encarnação de Jesus e seu sofrimento voluntário que culminaram na cruz são as evidências inegáveis. Nós cremos Nele.

Mas há aqueles que fazem a seguinte pergunta: “O que Deus está ensinando para você?”, mas apesar de não ser uma pergunta de todo ruim, ela também não é das melhores, só pode ser feita por alguém que realmente é intimo da pessoa e em um contexto de amor e intimidade. Se você tiver na dúvida, não faça a pergunta. E a substitua por outra mais apropriada como: “como posso orar por você?” Aqui está uma pergunta que exige trabalho duro, se queremos caminhar com aqueles que sofrem, nós devemos lembrá-lo que Deus está ouvindo, devemos levá-lo a confiar nas promessas de Deus, e também estamos dizendo que ele (o sofredor) estará em nosso coração. Se recebermos alguma resposta como: “Ore para que Deus me deixe sozinho” ou um olhar para o lado – alguma coisa que sugira que a pessoa está ou irada, ou indiferente à sua pergunta – então, podemos orar para que Deus conforte a pessoa e a faça conhecer Seu amor e presença. Mas melhor do que dizer que vamos orar pela pessoa, é orar pela pessoa no próprio local, e depois disso vem a parte mais importante, acompanhar a pessoa no meio do seu sofrimento. Quando nos comprometemos a orar por uma pessoa que está sofrendo, nós estamos dando testemunho do amor de Deus refletido em nós.

Ed Welch - Traduzido e adaptado por Pr Carlos

Fonte: www.ccef.org