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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

ACONSELHANDO PESSOAS ENVOLVIDAS COM A PORNOGRAFIA - PARTE VIII

 Aconselhamento Aplicado

Em quarto lugar, é necessário propor um modelo de aconselhamento redentivo. O Wadislau C. Gomes traz o seguinte esquema:


a) Habitação: é necessário saber onde a fé da pessoa está habitando, pois este elemente é importante para a avaliação de sua identidade. É o que o indivíduo espera da vida, é o que dá sentido para a vida da pessoa. Para se descobri isso algumas perguntas se fazem necessárias: No seu entender, o que faz a vida funcionar? O que é importante? O que você crê que precisa ter para que a sua vida seja bem sucedida? Neste primeiro momento, quer se chegar às questões e aos ídolos do coração. Sobre a habitação o Rev Wadislau afirma: "Habitação, portanto, é o encontro do homem (fé intuitiva, incutida pela graça comum de Deus) com o conhecimento de Deus, sua Pessoa e se propósito e com o conhecimento de sua obra, isto é, da criação e da criatura humana (fé discursiva, relacional). Nesse aspecto, a habitação é tácita, inicialmente formada sem palavras e, então, verbalizadas como proposições de uma biocosmovisão." (Gomes, 2004, pág. 112). Com relação à pornografia, em geral as pessoas envolvidas por ela desejam segurança, não investir demais em um relacionamento, não correr riscos. E a pornografia vai na verdade gerar um alívio instantâneo e temporário. Se o conselheiro concentrar-se, por exemplo, apenas no apecto da masturbação na vida do aconselhado, ele corre o risco de trabalhar apenas no nível do comportamento e não do coração da pessoa. É preciso lidar com os desejos de relacionamento e os desejos que dão sentido à vida. Quando se fala dos desejos que dão sentido à vida, um estudo em 1 Tm 4.7 “exercita-te pessoalmente na iedadade” é bastante útil. É importante ajudar a pessoa a se exercitar em ser uma cristã piedosa, a confiar que Deus está cuidando, e sustentando-a. Portanto, a pessoa deve ser levada a entender que ela tem que “correr riscos” em todas as áreas de sua vida – trabalho, relacionamento, etc.

b) Imaginação: A imaginação consiste no lugar para onde a esperança se movimenta, consiste, na verdade, a utilização da mente para uma atividade criativa. "Outra palavra traduzida para imaginação em algumas versões da Bíblia traz o sentido de murmurar, planejar, unir-se em conluio, ruminar, vislumbre e insight (hb. Hagah). É o termo usado no Salmo 1.2 como imaginação. Na citação deste último, em Atos 4.25, a palavra grega é meteleo, significando presumir, revolver na mente, imaginar. Em provérbios 23.7, em que é dito que como o homem imagina no seu coração, assim ele é, a palavra usada significa dividir, discernir, abrir e, figuradamente, pensar avaliar, estimular (hb sha´ar). O conceito geral é de um processo criativo do conhecimento no sentido de formação e planejamento, intenção (hb. Yetzer, Gn 6.5;8.21), pensamento elaborado (hb, nachshebeth, Pv. 6.18), ou arrazoar (gr.dialogismos e logismos, Rm 1.21 e 1 Co 10.5), ou mente (gr. dianoia, Lc 2.51)." (Gomes, 2004, pág. 116,117). Para pessoas envolvidas com pornografia a imaginação é uma das áreas mais afetadas, pois como o homem foi criado receptivamente criativo e ativamente redentivo, e a pornografia trabalha com imagens, ele está sempre usado de seus recursos criativos para satisfazer a habitação da sua fé (neste caso, fé em um ídolo e não em Deus). David Powlison chama a pornografia de dragão que está sempre faminto e lutando para ser alimentado por imagens e flashes. O pornografo desenvolve aventuras sexuais mentais para satisfazer a sua imaginação. Pode-se dizer que, há uma retroalimentação. A pessoa habita sua fé em um ídolo (o sexo, o relacionamento utilitário, a satisfação instantânea), e então imagina, planeja modos de satisfazer este ídolo. A partir desta perspectiva, a esperança, que inclui os modos formais para a solução de problemas, passa a ser planejada e imaginada a partir de uma fé baseada no ídolo qua habita no coração da pessoa. No tocante à imaginação, como a pornografia trata do uso de imagens como estratégia de resolução de problemas, é útil que haja uma contraposição com a imagem do Cristo crucificado. Deus nunca planejou que o sexo existisse como algo isolado. Há sempre um contexto de relacionamento ligado a ele. Neste sentido, no aconselhamento para se ter com mais precisão em que o aconselhado tem depositado suas esperanças algumas perguntas são úteis: O que ele mais anseia? O que ele espera de um relacionamento? Se ele quer se aproximar de alguém, ou se quer se manter distante? Quer estar seguro ou está disposto a correr riscos? Quer se envolver na vida da outra pessoas? Em fim, que tipos de relacionamentos ele deseja? Aqui é importante estudar Filipenses 2.3-4: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros.” Pessoas envolvidas com pornografia, em geral, querem se manter seguras, não querem se aproximar demasiadamente dos outros, pois estão preocupadas com a sua própria proteção. É importante ajudá-los a se envolver na vida de outras pessoas: família, amigos, sua igreja. Como se abrir para essas pessoas. Que riscos iria correr ao revelar coisas de si próprio a amigos cristãos que pudessem ajudá-lo a suportar esse fardo, orar com ele, encorajá e confrontá-lo. Esse é um risco necessário, o que significa ser um pouco mais honesto com o que está acontecendo.

c) Operação: A operação vai consistir, na verdade, nas atitudes expressadas pelos desejos do coração. "A Bíblia usa o termo operação para denotar “trabalho”, “realização”, “desempenho”, e “ato interior”, “poder para uma ação externa” “planejamento”, etc. Por exemplo como usado por Tiago no verso: “Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela perseverada, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante (gr. poietes, autor, produtor, feitor; e gr. ergo, trabalho, obra), esse será bem-aventurado no que realizar” (Tg 1.25); e no verso: “Vês como a fé operava (gr. ergon) juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou” (Tg2.22). Ou como usado por Paulo: “Porque, quando vivíamos segundo a carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam (gr. energeo, ser ativo e enérgico, afetar) em nossos membros a fim de frutificarem para a morte” (Rm7.5)." (Gomes, 2004, pág. 134). A operação é a maneira como a pessoa expressa a sua fé por meio de atitudes, de atos. No entanto, ela não começa no ato, Jesus diz: “Qualquer que olhar para uma mulher com intensão impura, no coração, já adulterou com ela” (Mt 5.28), aqui se vê um ato da operação do coração, antes da ação externa, do comportamento. Em Mateus 6.19-21 afirma: “(...) porque, onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. Desta forma, a operação não se trata necessariamente de uma ação, pois ela também é refletida nas emoções. A pessoa envolvida com pornografia é dirigida por uma fé em coisas temporais (habitação), e consequentemente limita e distorce seu conhecimento da realidade e, por fim, tem sua esperança frustrada, sendo a sua vontade operada por essa dinâmica. Operação tem a ver com amor. Amor é a afeição que se expressa na vontade que, finalmente, é efetivada nos atos do corpo (Gomes, 2004). A grande questão é que quando Deus é posto de lado, a fé e a esperança são postas de lado, elas são depositadas em ídolos, e a pessoa passa a ter atitudes e emoções (operação) voltadas para dentro – que é exatamente o inverso do amor.  Os atos humanos são, então, operados pela afeição do amor do seguinte modo: 1) têm origem na fé e habitam no conhecimento, 2) essa experiência gera esperança, que move a imaginação, 3 )esta aciona o amor que opera os atos do corpo. Mas a operação correta só pode existir quando a imaginação sobre quem a pessoa é derivar da esperança de que ela não está só, e esta esperança provém da habitação no Deus verdadeiro que é, por meio da fé, no que Ele diz que é (Wadislau, 2004). Acontece que uma fé em ídolos só produz obras mortas. A pornografia expressa o contrário do amor, expressa um ato de amor por si próprio, pois a vontade é um ato de amor, a sua vontade irá expressar o que ele ama. Na ponta do iceberg do problema estará um comportamento e sentimentos que objetivam a busca pelo prazer. Este constitui o objeto da lascívia, conforme afirma John F. Bettler (Bettler, 2005). Seja lá o que este objeto for ele é despersonalizado na mente da pessoa, e torna-se um simples artigo de uso. Na pornografia o sexo não é praticado com uma pessoa, mas com algo que não passa de um mero objeto. Como já foi dito, uma pessoa envolvida na pornografia não vê o seu parceiro como uma pessoa, e, sim, como um trampolim na busca pelo prazer sexual, este deve ser o ponta pé inicial do aconselhamento, saber qual é o objeto de desejo da pessoa. A este nível o conselho deve ser 2 Tm 2.22 “Foge, outrossim, das paixões da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor.” Neste primeiro nível o conselheiro deve simplesmente ajudar o aconselhado a fugir do caminho da tentação. As atitudes e os sentimentos não podem continuar sendo alimentados. É necessário que se corte a comida do dragão. É importante que o aconselhado tenha alguém para quem prestar contas sobre seu comportamento, que ele coloque filtros na internet, ou instale um programa que gera um relatório sobre todos os sites acessados e envie para alguém de sua confiança, que ele pare de ver revistas pornograficas e até evite olhar a seção de revistas pornográficas nas bancas de revistas. Com certeza existem outros modelos de aconselhamento muito bons, mas é necessário um modelo que lide com todos os aspectos do problema, que trabalhe, antes de tudo o coração e também o comportamento, pois caso, o aconselhamento se resuma a lidar com os comportamentos exteriores terá pouco sucesso. É necessário que se descubra quais são os desejos de relacionamentos que dão sentido à vida daquela pessoa e, a partir daí, desenvolver uma estratégia bíblicas para lidar com todos eles.

Pr Carlos

CITAÇÕES

1 - GOMES, Wadislau Martins. Aconselhamento Redentivo. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.

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