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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ACONSELHANDO PESSOAS ENVOLVIDAS COM A PORNOGRAFIA - PARTE VII




Aconselhamento Aplicado






Tendo estes pressopostos como base para o aconselhamento, é importante partir para o aconselhamento propriamente dito. Mas como aconselhar alguém com problemas com a pornografia?


Em primeiro lugar, temos que ser realistas para como o homem em sua situação presente, para com o problema básico do homem. E neste sentido temos que pensar em termos de valores bíblicos. E esta é a grande diferença entre uma resposta redentiva e uma resposta terapêutica. Com relação a isto o Rev. Wadislau faz a seguinte poderação: "Por terapêutico, eu me refiro à aproximação ao ser humano e seus problemas para cura e solução (o que implica o modelo médico). Por redentivo (neologismo consagrado na teologia), entenda-se a ação do poder do evangelho que inclui: (1) o ambiente do homem – que é o próprio Deus soberano – e todo o seu propósito na Criação. Queda e Redenção assim como no destino final da humanidade; (2) toda a profundidade dos aspectos psicológicos, sociais, ecológicos e, principalmente, teológicos do ser humano; (3) a transformação de seres humanos à imagem de Cristo com base na sua obra redentiva com todas as suas consequências por meio do Espírito Santo, sua cura (psicológica, cultural – a totalidade do ser), isto é, a redenção dos problemas e o alcance dos propósitos de Deus." (Gomes, 2004. Pág. 14). A resposta terapêutica presume a cura do homem a partir de princípios seculares humanistas, ou seja, de que o homem é bom, ou moralmente neutro, oferecendo a solução destes problemas à parte de Deus. Mas a Teologia Reformada utiliza o termo redenção pois parte da crença na depravação total do homem colocando o problema do homem no âmbito dos aspectos morais e de fé. Sendo assim, no aconselhamento bíblico de pessoas envolvidas com a pornografia, deve-se ter uma noção bíblica do homem como sendo criado por Deus de modo analógico, segundo a sua imagem. O homem foi criado bom, mas ao pecar caiu e se tornou redimível. O homem é hoje o mesmo homem criado por Deus, mas sua condição não é a mesma da criação. Conforme as Escrituras afirmam,ele está morto em seus pecados e a vida que tem é vivida em um ambiente de morte, ele encontra-se em um estado de rebelião contra Deus. Desta forma, o problema básico do homem é o pecado. Isto não significa que todos os problemas de um homem são consequências diretas do seu pecado, mas certamente são consequências do pecado de Adão. Consequentemente, só a redenção consumada pelo Senhor Jesus Cristo na cruz pode resgatar o homem deste terrível mal, o pecado.
Em segundo lugar, é necessário ter o entedimento de que o grande problema está no coração da pessoa. A Escritura ensina que o coração é o centro de controle da vida. A vida de uma pessoa está no seu coração. Provérbios 4.23 afirma: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida.” É do coração que emanam as realizações da vida. O comportamento de uma pessoa é uma expressão do que há em seu coração. Assim sendo, o coração determina o comportamento.“Coração”, na Escritura, está principalmente ligado a idéia daquilo que é mais central e profundo em algo ou alguém. O coração do homem é fundamentalmente religioso, ou seja, tem uma vocação ou impulso natural para manter relação com Deus ou com um ídolo; Coração é o elemento definidor e central da pessoa humana (heb.: Leb, lebab; grego: Kardia). É o núcleo central da vida a partir do qual toda vida procede e é determinada. O alvo do aconselhamento deve ser o coração da pessoa e não o seu comportamento. A respeito disto Tedd Tripp faz a seguinte asseveração: "A compreensão disto faz coisas maravilhosas em favor da disciplina. Ela faz do coração o alvo da questão, e não somente o comportamento. Essa compreensão facilita a correção em coisas mais profundas do que somente na mudança de comportamento. O ponto de confronto é o que está acontecendo no coração." (Tripp, 2007, pág. 18). Neste sentido, a proposta é desmascarar o pecado, ajudando o aconselhado a entender como o seu comportamente reflete um coração pecador. Este fato leva o aconselhado à cruz de Cristo e ressalta a necessidade de um Salvador. Neste ponto, o aconselhamento aponta para a glória de Deus, que enviou Jesus para transformar corações e libertar as pessoas presas em seus comportamento pecaminosos.Mas o que dizer a respeito das influências formativas, tão valorizadas pela psicologia. Não são elas que determinam o comportamento. pois que o comportamento pornográfico não é na verdade um resultado a influencia do meio em que a pessoa viveu? Com respeiro a isto o Dr. Valdeci tem uma conclusão interessante : “(...) parece mais correto descrever tal fenômeno como uma preferência adquirida. Essa preferência pode estar ligada tanto à influência psicossocial quanto à decisão individual de adotar um comportamento contrário à sua própria natureza. Essa abordagem possui mais respaldo bíblico, pois as Escrituras ensinam que o gênero humano é uma raça concebida em pecado e por este afetada física, psicológica e espiritualmente (Sl 51.5; Jo 3.5,6; Rm 5.12; Ef 2.1,2). (...) O comportamento preferido e aprendido pode ser abandonado e desaprendido.” (Santos, 2006. Pág. 26). É nesta categoria que o aconselhamento deve trabalhar. Deve-se ver o comportamento pornográfico como uma preferência adquirida, ou seja, trata-se de um comportamento adquirido tanto pela influencia do meio, quanto pela decisão íntima de exercê-lo. Consequentemente, a causa suficiente para este pecado é sempre e somente o coração pecaminoso, mas não se pode ignorar as influências formativas como abuso sexual, ambiente familiar, amigos, etc (Vadeci, 2006). O aconselhamento deve sempre visar o coração da pessoa, Marcos 7.21-23 diz: “Porque de dentro, do coração dos homens, é que pocedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.” Não são apenas influencias formativas que tornam alguém impuro, mas o que vem de dentro do coração do homem, as influências podem até ativar um comportamente pecaminoso, mas não são a sua causa última.
Em terceiro lugar, deve ficar claro que cristãos envolvidos com pornografia estão na verdade tendo mais temor dos homens do que temor de Deus. O homem foi criado com uma natureza pactual, ou seja, ele é um ser de aliança, um ser religioso. Todos são adoradores, ou adoram a Deus ou adoram um ídolo. Neste sentido, não há neutralidade. Tratam-se dos ídolos do coração. Com respeito a isso David Powlison afirma: "A relevância de grandes partes da Escritura prende-se ao nosso entendimento de idolatria. Contudo, permita-me focalizar a questão utilizando um versículo do Novo Testamento que há muito me pertuba. A última linha de João adverte e ordena: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos.” (1 João 5:21). Como é que avaliamos esse mandamento no final de um tratamento de 105 versículos sobre o relacionamento vital com Jesus, o filho de Deus? Será que algum escriba fez uma emenda extemporânea? Seria um desajeitado feito por um escritor que, usando linguagem simples, metodologicamente tece densas e ordenadas tapeçarias cheias de significado? Será esta uma perspectiva de aplicação prática limitada pela cultura, colocada ao final de um das epístolas mas atemporais e pertencentes aos lugares celestiais que temos? Cada uma dessas altenativas falha em entender a integridade e o poder das palavras finais de João. Pelo contrário , a última linha de 1 João deixa-nos com a questão mais básica com que Deus confronta o coração humano: alguém ou alguma coisa que não Jesus Cristo tem controlado a confiança do nosso coração, como objeto, preocupação, lealdade, serviço ou prazer? É uma questão que influi a motivação imediata do nossos comportamentos, pensamentos e sentimentos. No conceito bíblico, a questão da motivação é a questão do senhorio. Quem ou o que “regula” meu comportamento, o Senhor ou um substituto? As respostas indesejáveis a esta questão – respostas que mostram nosso desentendimento da “idolatria” que queremos evitar – são claramente apresentadas em 1 João 2:15-17, 3:7-10, 4:1-6 e 5:19. É impressionante como estes versos apresentam uma confluência de perspectivas de motivações idólatras nas áreas sociológicas, psicológicas e demonológicas."(Powlison, 1996, págs. 22,23). Portanto, quando se fala de pornografia não dá para deixar de falar de idolatria. A questão da pornografia é numa primeira instância uma questão de idolatria, de uma falsa adoração, da busca de refúgio em um outro deus que não o Deus das Escrituras. Um cristão, quando envolvido com a pornografia, teme, em geral, ter seus atos descobertos, treme ao menor pensamento de terem seu mundo privativo invadido por alguém, de ter seus pensamentos e atos impuros revelados. Ed Welch afirma: "Todas as experiências de temor do homem têm pelo menos uma característica em comum; as pessoas são grandes. Elas cresceram em proporções enormes, como se fossem ídolos, em nossa vida. Elas nos controlam. Uma vez que não existe nenhum espaço em nosso coração para adorar a Deus e as pessoas, sempre que as pessoas são grandes, Deus não é. Portanto, a primeira tarefa para fugir da armadilha do temor do homem é saber que Deus é tremendo e maravilhoso não as outras pessoas."(Welch, 2008, pág. 119). Um cristão que faz da pornografia o seu mundo secreto, demonstra que perdeu a noção de que Deus está presente em todos os momentos e vê a tudo e a todos. Perdeu a noção de que deve temer somente a Deus, de que é impuro e de que Deus por ser puro não admite a impureza diante de Si. Ele perde a noção de que deve ter por Deus um temor-adoração, ou seja, uma atitude motivada pelo amor e honra que são devidos a Deus. Em contra-partida, apresenta um pavor enorme diante dos homens.Há uma mudança de foco em seu coração. O temor que era devido somente a Deus agora é devido aos homens. É também um problema de afeição. Se suas afeições estiverem em Deus, sua vontade decidirá temê-lo, “pois no amor não existe medo, antes, o amor lança fora o medo” (1 Jo 4.18). Se, contudo, o amor estiver em qualquer outro lugar, que num ponto exterior, quer interior, então medo e ira irão dominá-lo.

Pr Carlos
 
CITAÇÕES
 
1 - GOMES, Wadislau Martins. Aconselhamento Redentivo. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
2 - SANTOS, Valdeci da Silva. Uma perspectiva cristã sobre a Homossexualidade. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
3 - POWLISON, David. Ídolos do Coração & Feira das Vaidades. Tradução: Wadislau & Elizabeth Gomes – Brasília: Refúgio, 1996.
4 - WELCH, Edward T. Quando as Pessoas São Grandes e Deus é pequeno: vencendo a pressão do grupo, a codepedência, e o temor do homem. Tradução: Débora Galvão – São Paulo (SP). Editora Batista Regular do Brasil, 2008.
5 - TRIPP, Tedd. Pastoreando o Coração da Criança.Tradução: Ângela Guerrato – São José dos Campos (SP): Editora Fiel, 2007.

4 comentários:

  1. Post muito bom!
    abraços !!!!

    ;)

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  2. Gostei muito do post. Achei que depois de toda a argumentação anterior (extensa, mas necessária) suas considerações sobre esse assunto agora mostram como efetivamente ajudar. Não é o IESB, mas teoria e prática estão juntos!!!

    Gostaria de destacar:

    A citação do Rev. Valdeci (2006) em conjunto com o que você também conclui no texto é muito importante: “a causa suficiente para este pecado é sempre e somente o coração pecaminoso, mas não se pode ignorar as influências formativas como abuso sexual, ambiente familiar, amigos, etc.”
    Quem ainda não conhece o tamanho do dano causado ao coração do homem pelo pecado, pode em princípio, achar que o aconselhamento bíblico estaria minimizando seu sofrimento e sua luta se fosse desprezada a influência que o meio exerceu na vida da pessoa. A grande virada nessa visão é a pessoa entender como seu coração pecaminoso reagiu a essas influências no passado levando-o ao consumo de pornografia.


    O argumento de que as pessoas têm mais temor dos homens do que de Deus é fantástico! Não somente na pornografia, mas em todas as áreas esse argumento revela a inversão do valor que o homem dá a Deus. Isso me faz lembrar daquele pequeno cântico que muitos cantaram em suas infâncias, sem contudo, terem entendido sua mensagem:

    O que você faz, o que você diz, Deus tudo escuta e tudo vê, sim; vê,sim!
    Deus tudo vê, escuta o Senhor, tudo o que faz e diz você!

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  3. João,

    Obrigado por suas observações, é isso mesmo, as influências formativas são de suma importância e sempre devem ser levadas em conta no aconselhamento, o verdadeiro conselheiro bíblico jamais as ignora, apesar de não entender que elas são a causa última do comportamento.

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  4. Meu nome é Edimar, sou pastor presbiteriano e gosto muito de aconselhamento bíblico, parabéns pelo blog e pela mensagem.

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